quinta-feira, março 31

Shade of blue Um, dois, três, quatro...

Terças, Quartas e Quintas o senhor da mesa do canto pousava os óculos na mesa, tirava o lenço com as suas iniciais do bolso e desdobrava-o e voltava a dobrá-lo quatro vezes.
Sempre quis perguntar-lhe a razão daquele ritual obsessivo, mas voltaram as Terças, as Quartas e as Quintas feiras mas nada do senhor e do seu lenço.
Por vezes, enquanto limpo os copos à frente do balcão deserto do bar, os meus olhos tresmalham desenhando um infinitésimo distraído no horizonte e aí, alheio das minhas mãos atarefadas, penso:
Talvez ele quisesse ver se ainda se lembrava de como fazê-lo.
1, 2, 3, 4...1, 2, 3, 4...
ou...
Talvez buscasse, desfocados os gestos, subtrair a nitidez pousada na mesa, à natureza ofuscante da memória de um momento no tempo. Talvez ao desdobrar os sentidos concisos, apenas os pudesse suster unidos por breve espaço de tempo, não resistindo então, a voltar a dobra-los cuidadosamente.
Tinha sido ali, naquela mesa junto ao canto, que tudo se passara...
Um inicio e um fim.

.Blogger animah 1/4/05 5:26 da tarde