sábado, janeiro 8

animah

Eu caminho pela rua. Vejo um buraco na calçada. Apresso o passo para ganhar balanço. No momento preciso do salto reparo no atacador solto e tropeço no mesmo. Com todas as forças que me restam agarro-me como posso para não cair. Fico esticado com as mãos e os pés apoiados nas bordas do buraco. Noto angustiado que não posso mexer um dedo sem resvalar para dentro do buraco profundo e negro. Começo a ouvir as vozes de muitas crianças e de duas mulheres adultas que parecem discutir o estranho fim da telenovela da tarde. Embrenhadas na conversa, as educadoras seguem alienadas e nem reparam que me estão a usar como prancha de passagem. Uma e a outra de seguida calcam-me as vértebras e eu heroicamente mantenho-me sem vacilar. Os meus gemidos são abafados pelos gritos entusiasmados das crianças e o transito na rua ao lado. Passado o saltitante grupo sinto-me descontrair e esse é o meu erro, os meus dedos dão de si e estalam cartilagens com ruídos que só eu ouço. Estou perdido, penso. Espero que a vida me passe em frente aos olhos mas frustrado apenas me consigo recordar do que comera no ultimo lanche. Finalmente sinto-me cair em câmara lenta. Reparo impressionado na lenta passagem do tempo independente do rápido circular dos meus pensamentos. Lembro-me de transformar a lentidão perceptual em lentidão física real. Alguns gemidos cortam a minha concentração enquanto suavemente pouso no fundo do buraco. Para minha surpresa não terei caído mais do que um metro. Perante o absurdo abro bem os olhos para perceber se estarei a sonhar. Os ocupantes do buraco permanecem quietos e aparentemente confortáveis embora arrumados como sardinhas no espaço limitado. Eu próprio sou invadido com uma estranha sensação de conforto e empatia. Sinto os meus joelhos a dobrarem e o meu corpo cansado a encontrar o seu lugar natural. As paredes escuras tecidas em algodão embalam-me até o tempo parar. Nasce o dia. Acordo com o sol nos olhos e os resmungos de alguém incomodado pelo modo como apoio o cotovelo esquerdo. Levanto-me e sem esforço saio do buraco. Não aperto o atacador solto. Continuo o caminho com muito menos receio de buracos profundos e escuros. (Jun 28)
E se tivesse apertado os atacadores naquele dia? Agora sempre que caminho e me acontece ter um atacador solto penso, que outros receios terei eu que me toldam o julgamento? Que me escudam, me couraçam, que me protegem de todos os elementos?
.Blogger Shade of blue 20/4/11 11:44 da manhã  

quinta-feira, junho 3

animah

quando se deitava exactamente às 3h e 33min acordava só no mundo.
A manhã caia-lhe em cima sem aviso com os primeiros raios de sol. Levantava-se pacientemente, ia à casa de banho e fazia greve ao mundo voltando ao seu teatro de operações onde exercia a sua mais séria profissão, a de sonhador.
.Blogger Shade of blue 9/12/10 1:00 da manhã  

terça-feira, maio 19

Shade of blue Um par de palavras

Disseste duas palavras. Uma chegava-me, desde que fosse para mim.

quinta-feira, fevereiro 26

Anónimo

De olhos fechados, de boca e peito abertos, voou como nunca tinha voado, apesar de nada ter visto, contou o que o vento lhe disse.

quarta-feira, fevereiro 25

framboesa

sentada de olhos fechados o ronronar do gatito no colo embalava as mãos e o sonho.
minúscula, deitada de olhos fechados no colo de um enorme gato, deixara-se embalar pelo ronronar de um sonho que já não estava nas suas mãos.
.Blogger animah 21/1/10 1:20 da manhã  

terça-feira, fevereiro 24

Anónimo

o roncar soluçado do motor moldou-lhe a capacidade de pensar numa forma circular denteada que sentia dificuldade em encaixar na irracionalidade do mundo.
Havia uma amiga.... ela tinha facilidade em encaixar a irracionalidade do mundo; a forma circular dela? Desdentada!
.Blogger Shade of blue 19/5/09 12:35 da manhã  

terça-feira, março 4

animah

Do alto da torre da ladeira, dois confessavam as férias de verão a uma multidão de curiosos. Era o inicio da monção e os campos estavam encharcados de luz verde clara, com pontilhados de amarelo e pétalas brancas.

quinta-feira, maio 17

animah

Pulo a pulo o tempo soluçava,
novelos de coelhos brancos atravessando o azul.

terça-feira, fevereiro 20

Shade of blue Fuga desportiva

O mecânico ucraniano desmontou umas peças do carro acabadinho de rolar do reboque. No seu melhor português, numa palavra: Caput.

No metropolitano, feito de carruagens quasi vazias, os apoios pendurados perfilavam-se em barras paralelas que se opunham. De repente animaram-se e começaram a fazer acrobacias como na modalidade olímpica, mas aquela em que as barras ficam assimétricas, voando de uma para outra em cambalhotas precisas e ousadas. O comboio imobilizou-se. Os apoios, com uma disciplina militar, alinharam-se de novo excruciantemente iguais e ordenados nos lugares originais antes das portas se abrirem.

Caput.

Com um pii agudos as portas abriram-se e a multidão soltou-se, correndo em magotes para a chuva.
O velhinho guardou o baralho das cartas e sorriu, matreiro: Crapot?
.Anonymous Anónimo 22/2/07 12:52 da tarde  

segunda-feira, fevereiro 19

framboesa

os soluços faziam-na dançar e contorcer-se às cavalitas nas costas do homem mais triste da aldeia. os seios maduros esborrachados contra as costas dele, ela ria-se incontrolavelmente, embriagada de vinho e olhares e promessas dos homens da terra. "levas-me a casa? vamos à praia! quero fazer xixi!"
no bosque, os grilos saudaram-nos. depois do silêncio inicial, ele decidiu ir para casa. já ia adiantado no caminho, quando a ouviu gritar: "um dia vou dormir contigo! vais ver! é uma jura!"
E aqui estávamos nós, quarenta anos volvidos, a braços com um silêncio constrangedor de uma jura por cumprir.
.Blogger Shade of blue 20/2/07 3:58 da tarde  
Tu estavas bem e disse-to - via-se na tua cor dourada - devolves-te o comentário e percebia-se que o dizias com verdade. Trocámos cartões e iniciámos cada um o caminho para o par de braços que nos esperava.

O narrador ficou a observá-los e entendeu que uma história tem muitas voltas e não é uma parágrafo que a confina ao quarto escuro que alguém imagina na casa de outros.

.Blogger Shade of blue 24/2/07 10:27 da tarde  

quinta-feira, fevereiro 1

animah no verso

Nunca tinha acreditado em viagens no tempo, até dar com a sua propria imagem envelhecida numa fotografia centenaria. No verso podia ler-se "viajante errante procura (na)morada pacifica".
Deviando-se de mais um prato que voava,perguntava-se o que tinha acontecido. De quando se teria esquecido daquilo tudo? Teria sido o tempo a esboroar as suas ambições?
.Blogger Shade of blue 20/2/07 3:54 da tarde  
Por mais algum tempo deixou voar esses pensamentos contraditórios, enquanto inconscientemente vasculhava arquivos mentais em busca da peça perdida. Deu com um pequeno e misterioso envelope azul.
No verso, em elegante caligrafia, podia ler-se - "Para mim".
Todas as respostas a presentes perguntas estariam ali escritas,
pela sua própria mão.

.Blogger animah 22/2/07 2:44 da manhã  

segunda-feira, janeiro 8

Shade of blue Cem palavras

Como quem guarda um abrigo para um dia mais frio e com chuva, a sua religião limitava-se ao depósito diário de uma palavra escrita num qualquer papel vagabundo e itinerante na pequena caixa metálica.

Assim, nunca ninguém poderia deixá-lo sem palavras... dissesse o que dissesse.

terça-feira, outubro 31

animah iluminação

Era tarde, o velho candeeiro de luz fluorescente oscilava o silêncio com uma vaga reinterpretação de um canto tradicional alentejano em código morse.
Por mais que se tentasse concentrar havia sempre um estalido indevido para o perturbar. Então, num movimento claro e fluido, atingiu a iluminação.
Conquistado o silêncio, sentou-se e continuou a meditar, às escuras.
E aí observava os pensamentos que corriam como modelos em passereles, rápidos e languidos ao mesmo tempo rudemente interrompidos uns pelos outros. O silêncio era agora como um iglo sobrepovoado: alguém teria de sair ou o derretimento teria início.
.Blogger Shade of blue 31/10/06 8:08 da tarde  

domingo, outubro 22

Anónimo anamnese

ele corria. todos os dias corria um pouco, corria muito mais que todos os outros, mas para ele era um pouco. depois, de vez em quando, havia um dia em que tinha realmente de correr e correr muito. ao seu lado, outros corriam muito, e tentavam correr mais que todos os outros.
a meta, a alguns quilómetros, era o objectivo de todos, mas muitos esqueciam o prazer da corrida. ele não.
até àquele malfadado dia em que se esqueceu de como se andava. e ficou parado no meio da estrada, vendo todos os outros a passarem por si a grande velocidade como formigas-marabunta.
só se tinha esquecido de como se andava. eventualmente, lembrar-se-ia.

terça-feira, janeiro 31

Shade of blue Voicemail cheio

A espuma dos dias brilhava metálica e desfazia-se nos dedos com o espanto de quem acha uma mão com seis dedos. Líquida a noite escorria para o dia e logo o dia se entornava ébrio na noite. E ela permanecia, serena e silenciosa como dita a morte, na praia deserta onde tinha jurado beber pela última vez.
E se alguém, que não o vento ou as gaivotas que deambulavam no areal, tivesse ouvido esse juramento, esse canto, ficaria espantado com a certeza dessas palavras de metal frio.
.Anonymous Anónimo 2/2/06 11:24 da manhã  
Olhos fechados, um travo quente na boca de sabor salgado, os lábios a derreter lentamente a areia. Uma cova macia recém-aberta.
.Blogger animah 7/7/06 6:42 da tarde  

quarta-feira, novembro 30

Anónimo

16h17. o portão abria-se lentamente, o barulho da hélice calava as máquinas que, atrás de si, teimavam em terminar a sua tarefa diária. a filha do presidente desceu as escadas, emproada, com a tesoura na mão, sorriso plástico nos dentes brancos. a fita vermelha cortada, aplausos, barulho. a hélice foi-se. apanhar o lixo era a prioridade.
na casa das máquinas o vapor acumulado tentava fugir pelas frinchas do maquinismo. o rapaz, empoleirado e farrusco, mantinha-se a postos para lhe bater, empurrando-o de novo para a caldeira.
.Anonymous Anónimo 1/12/05 4:52 da tarde  

Anónimo

ela desceu a escarpa com cuidado, para não cair. as ondas mais bravas salpicavam-lhe os cabelos. não tinha culpa. os gatos tinham fugido. mas ela não tinha culpa. o vento era capaz de saber onde eles andavam...

sábado, novembro 26

animah

- Eu estou aqui! - disse com pertença.
Jamais o mundo lhe pareceria tão belo.

quinta-feira, setembro 15

Anónimo Sabes onde fica Nárnia?

Da única vez que o vi, acabava de partir da praça da grande catedral de granito, despercebido entre outros autocarros amarelos semelhantes que atravassavam a cidade para levar os passageiros a horas até aos seus exíguos escritórios . Ao lado do letreiro que indicava o destino, numa folha A4 colada com fita-cola ao vidro lia-se o aviso: Pode passar por Nárnia.
no reverso, em grego, alguém tinha deixado um número de telefone. quem liga-se ouvia uma prelecção de Platão.
.Anonymous Anónimo 20/9/05 10:34 da manhã  
o mapa que tinha sido pespegado na paragem ao Km 32, marcava, dentro de um grande circulo a baton carmin, a palara Narnia. tal foi anotado pelo nosso correspondente na zona e confirmado mais tarde pelo topógrafo de serviço.
.Anonymous Anónimo 13/10/05 1:22 da tarde  

segunda-feira, setembro 12

Anónimo a machina [i]

a machina-mechane movia-se rápida, cumpria a sua função, eficaz e produtiva. era respeitada pelos colegas e invejada pelos directores anónimos de fato azul e camisa imaculada. queriam ser como ela, ter aquele poder fabuloso, aquela capacidade única de esmagar um ser humano e reduzi-lo, em meros microsegundos, a pó reutilizável em gelatinas.
as previsões do comércio das gelatinas, usadas como filmes de grande relevo na industria da impressão, foram cortadas pelo défice energético. a solução foi a eliminação dos fatos azuis e conteúdo. a machina-mechane pertence agora à divisão Sul, tendo mudado o produto final. a técnica de esmagamento, diz o relatório, continua apurada...
.Anonymous Anónimo 12/9/05 9:11 da tarde  

domingo, setembro 11

animah

Era incapaz de escrever um livro porque temia que os seus proprios personagens lhe roubassem o pouco contacto com a realidade que ainda pensava possuir.
O braço saiu-lhe, cortado no choque frontal com o comboio. Correu atrás dele desesperado mas já era tarde. Liberto de inibições, escorria o sangue pela chapa das carruagens, em longas e contínuas frases árabes, numa longa história de amor.
.Anonymous Anónimo 12/9/05 9:43 da manhã  

terça-feira, agosto 30

animah Silêncio

Era novo ali, tão novo quanto alguém o pode ser no meio de clones iguais.
Essa noite haveria revisão de peças, e estando a matriz correcta, novo grupo de dez unidades sairia da instalação …
Outro insuspeito ajuste no seu consciente colectivo seria realizado.    

domingo, agosto 7

Anónimo mito urbano

ele sorria, andava de metro, telemóvel no bolso interior esquerdo do casaco impecável, era bem sucedido e mantinha boas relações com todas as mulheres com quem se envolvera.
ele fingia: por dentro, chorava, sonhava em ser criança, sem responsabilidades, andar de bicicleta, apaixonar-se a sério por uma menina de tranças castanhas e dar-lhe um beijo de água.

terça-feira, julho 12

animah

Ao alcance da minha mão, uma cachoeira ainda jovem treinava bemóis em melodias incompletas. Um doce chorinho salteado a húmida estática.

terça-feira, julho 5

Anónimo

Quando ele reparou que tinha uma carreira, apagou-a de imediato, muito envergonhado.

terça-feira, junho 28

Anónimo no momento certo...

anda, mexe-te, vá, em frente!
anda lá, tenho de apanhar aquela estrada.
cuidado com o entusiasmo, estás quase a deixá-lo cair ao chão, depois é uma trabalheira para limpá-lo, que o limo social não sai com tide.

animah

Sofria de uma raríssima perturbação. Chamavam-lhe falsa memória do mundo.
A cada novo olhar que dava a um objecto, este parecia-lhe mudado. Mas essas mutações, para ela simplesmente indícios da sua incapacidade de recordar pormenores, aos olhos de outros eram bem visíveis. Podiam ser poucos graus numa variante de cor; um padrão onde apenas mudava a espécie de animal e mantinha a posição das patas; uma diferente curvatura num ramo de uma árvore próxima. Onde quer que pousasse o olhar o mundo agitava-se.
Passava despercebido ao observador casual. Ao longe nada parecia diferente.

domingo, junho 26

Anónimo agricultura

tropeçou numa almofada e a língua foi dar com a linha do rego do pé. sabia a terra molhada

quinta-feira, junho 2

Anónimo

O deus da ilha sem nome circundou o seu horizonte num equilíbrio perfeito. Depois inspirou lentamente e sentou-se sobre a linha, com as pernas balançando dentro de água, esperando a corrente quente que traria a migração das primeiras aves. Debaixo de água, os predadores do labirinto de coral aproveitaram a agitação dos cardumes para descansar.
Entretanto, se ninguém o impedisse, contaria as histórias que inadvertidamente fariam desaparecer todas as nuvens a sul do equador.

quarta-feira, junho 1

Anónimo a nuvem R.

Olhavam-na de lado porque gritava de entusiasmo sempre que do lado de lá da montanha lhe chegava o cheiro a maresia. Um dia, quando todas dormiam, desapareceu.

terça-feira, maio 31

Anónimo a nuvem J.

Aguentei o mais que pude. As outras ainda me tentaram agarrar, mas desfiz-me num aguaceiro repentino.

domingo, maio 29

Anónimo a nuvem M.

Todas as nuvens mais velhas sabiam, mas nenhuma delas a avisou. Limitaram-se a trocar olhares preocupados durante as semanas em que acalentara o ideal cada vez mais ardente de uma vida humilde e de recolhimento como eremita debaixo da terra.
Quando voltou estava irreconhecível.
Avançaram todas pelo céu daquela tarde em silêncio, incomodadas, olhando para as suas próprias sombras a percorrer os campos cultivados como forma de distraçcão.

sexta-feira, maio 20

animah

Por condição escolheram um homem e uma mulher.
Não contentes com o acaso, rodearam cada um deles de trapos.
Sem que nada o pudesse prever, esperaram que vivessem felizes.

sábado, maio 7

Shade of blue O nascer de uma necessidade espiritual...

Nós eramos apenas pequenos quadrados de papel amarelo fosforescente. Uma simples película de cola nos mantinha unidos. Volta e meia o elemento da Frente - que nós chamávamos a linha do combate - era arrancado sem qualquer explicação do seio da comunidade. Era uma agressão que não conseguíamos entender...
Cedeu o contexto ao quarto passo e deslizaram sentidos numa corrente não coreografada. Restou um, pálido, desenquadrado agora, tremendo de desequilíbrio na fina linha que separa o gozo da morte.
.Blogger animah 20/5/05 3:57 da tarde  

quarta-feira, maio 4

Anónimo

A maior virtude do mundo distraiu-se e consegui subir pelo seu flanco. Quando lhe ia a passar pelo peito, abraçou-me num repente e esmigalhou-me os ossos. Caí aos pés da maior virtude do mundo, derrotado. Ela riu-se trocista e eu fiquei no chão, inerte, vendo-a partir.
Mais à frente um rapaz pregou-lhe uma rasteira. Contra as maiores virtudes nada como a inocência de quem não faz julgamentos de moral.
.Anonymous Anónimo 5/5/05 11:45 da manhã  

segunda-feira, abril 4

animah

Eu sabia que não tinha fundo.
Talvez por isso não hesitei em saltar.
Bastava-me cair afastado das paredes.
Quem será que levantou as paredes?
.Anonymous Anónimo 6/4/05 2:27 da tarde  
20 unidades de tempo mais abaixo pôs-se em bicos de pés, fendendo o escuro. o sapatos rasgaram em azul eléctrico, deixando chispas amarelo torrado coladas ao longo do caminho. quando tocou, o som foi abafado por um milhão de peças de relojoria desempregadas em excursão.

[relato de testemunha ocular]

.Anonymous Anónimo 3/5/05 10:26 da manhã  

quinta-feira, março 31

Shade of blue Um, dois, três, quatro...

Terças, Quartas e Quintas o senhor da mesa do canto pousava os óculos na mesa, tirava o lenço com as suas iniciais do bolso e desdobrava-o e voltava a dobrá-lo quatro vezes.
Sempre quis perguntar-lhe a razão daquele ritual obsessivo, mas voltaram as Terças, as Quartas e as Quintas feiras mas nada do senhor e do seu lenço.
Por vezes, enquanto limpo os copos à frente do balcão deserto do bar, os meus olhos tresmalham desenhando um infinitésimo distraído no horizonte e aí, alheio das minhas mãos atarefadas, penso:
Talvez ele quisesse ver se ainda se lembrava de como fazê-lo.
1, 2, 3, 4...1, 2, 3, 4...
ou...
Talvez buscasse, desfocados os gestos, subtrair a nitidez pousada na mesa, à natureza ofuscante da memória de um momento no tempo. Talvez ao desdobrar os sentidos concisos, apenas os pudesse suster unidos por breve espaço de tempo, não resistindo então, a voltar a dobra-los cuidadosamente.
Tinha sido ali, naquela mesa junto ao canto, que tudo se passara...
Um inicio e um fim.

.Blogger animah 1/4/05 5:26 da tarde  

sexta-feira, março 18

animah

Deu 3 largos passos até ao centro do salão e não se contendo soltou num suspiro a palavra-passe. Leve quando a colhera, esta caiu no chão de mármore pesada, criando um estridente eco caleidoscópico.
Viu-se então rapidamente rodeado de quatro podengos treinados para snifar vestígios de software pirata em pastilhas de memória usb. Uma lágrima clara de suor percorreu-lhe a espinha.
parados, os cães retesavam a vontade, puxados pelas ligações rápidas cruzadas na matriz do chão. um pequeno robot surgiu e fez sumir a palavra chave através de uma entrada na base da escadaria. continuou à espera, suspenso.
.Anonymous Anónimo 21/3/05 10:31 da manhã  

sábado, março 12

Anónimo

o homem desceu das amarras do navio e plantou os pés no convés.
em frente perfilava-se a montanha que procuravam. se não se apressassem ela fugiria como das outras vezes, deixando-os à bolina do vento suão.
.Anonymous Anónimo 21/3/05 10:27 da manhã  
Doze anos. Fazia hoje precisamente doze anos que procurava aquela maldita montanha. Só os seus contornos já transpiravam malícia e ainda assim tão pouco faziam adivinhar da perversidade dos seus estranhos habitantes.
.Blogger Shade of blue 24/4/05 9:15 da tarde  

domingo, março 6

Anónimo

estou inquieto. o sangue, a rumurejar, lateja nas têmporas, vejo turvo. a noite, a noite que caíu célere, sem aviso, tolhe os passos, faz de tudo aviso. os pés colhem caminho, sós, automatos. batem o chão, cegos, sem dono, arrastando tudo o resto com eles. com o desvario encepei no muro, caí de chape na água fria da fonte. de olhos abertos, no rompante, decidi afundar-me. abri um ralo e sumi-me. do lado de lá, alijado da carga pude sossegar e ler um livro em silêncio: era uma vez um rio e um poeta pastor...

quarta-feira, março 2

Anónimo o autodidacta

O autodidacta saíu da imponente biblioteca da sua cidade natal depois de 28 anos de visitas diárias. Parou no topo da escadaria de pedra para apertar o casaco. Os degraus e o largo estavam desertos e brancos com a neve fresca. Sabia para onde ir. Tirou do bolso uma caneta e desenhou na palma da mão linhas sobre as linhas da pele. Depois dessa manhã nunca mais foi visto.
exactamente a 17 de Novembro caíu o XXI tomo da Enciclopédia Britannica no chão. as mãos que o repuseram na estante não repararam na folha de papel amarelado que escorregou para debaixo da estante. talvez neste estivesse a reposta ao mistério.
.Anonymous Anónimo 5/3/05 3:45 da tarde  

Anónimo

as coisas não deviam ter acontecido assim:
o chapéu esquecido em cima da mesa do café, que, por azar, não era o habitual e já nem se lembrava em que rua ficava; as luvas deixara-as cair no momento em que corria para apanhar o eléctrico; o casaco, uma antiguidade passada de geração em geração, sujara-o um pombo esquisito que adoptara o tecido luxuoso como ninho.
um homem não pode fazer a corte a uma mulher digna sem um bom chapéu, umas luvas decentes e um casaco de qualidade.

Anónimo

o rapaz olhou no olho negro do café o seu. por fim decidiu-se, pôs os sapatos ao lado da mesa e atirou-se de cabeça. mais tarde, ao secar-se estendido ao sol, no pires, pensou numa bela rapariga de cabelos de azeviche e deixou-se ir num sono morno de estio.

sábado, fevereiro 19

animah

Todas as noites se sentava sozinho no espaço vazio entre três cadeiras, e olhava atentamente aquele enorme painel. Algo no centro o atraía, algo que apenas via quando cansado abria a boca num bocejo.
Um dia a dúvida assaltou-o e nunca mais foi o mesmo.

na PJ (onde deu conta do ocorrido), foi incapaz de achar a foto da dita no arquivo. o homem do outro lado da secretária também não o conseguiu ajudar: tinha acabado de desaprender a apertar os laços dos sapatos e estava muito entretido a admirar-se (eram bonitos, os laços, de um negro esfumado e tigrado que ficava bem sobre o azul da meia).
Kyriu | 21/2/05 12:40 AM
A dúvida, arrependida, não o voltara a visitar. Cinco longas semanas passaram e a certeza, livre agora de outros desejos, trouxera todo o seu mundo. A alcatifa estava plana, as arestas dos moveis eram claras e geometricamente rigorosas. Os periquitos cantavam em ciclos regulares e o gato nunca miava fora de tom.
Ele tinha mudado muito, diziam.

animah | 22/2/05 18:45 PM
Em Dezembro surpreendeu, a caminho de casa, uma sombra. Trazia com ela memórias. Mas nessa altura a mudança era já demasiado radical, os longos traços azuis sob os olhos tinham subido quase até às têmporas e o relógio de bolso tinha três dias de corda. Quando regressou a casa e ligou o volímetro, a luz amarela dos tubos do amplificador pintaram de âmbar o copo irisado onde serviu o licor. Das três cadeiras, as duas que ficaram encostaram-se satisfeitas, disputando os pés estirados sobre si.
Kyriu | 24/2/05 4:27 PM

quarta-feira, fevereiro 16

Anónimo

Ele sentia-se capaz de o fazer, mas as consequências inimagináveis de inventar e escrever a frase mais perfeita do mundo inibiam-lhe a vontade.
no entanto, sem o tentar, como o podia afirmar? de repente teve uma ideia mas logo a perdeu quando ouviu a chaleira assobiar.
.Anonymous Anónimo 16/2/05 12:52 da tarde  
depois do almoço dormiu a sesta. Acordou sobressaltado pela frase mais sublime do mundo que se instalara no seu sonho. Enquanto a tentava escrever ela foi-se desvanecendo e ele sentia-se ainda demasiado tôpego para correr atrás dela. Via-a afastar-se pela janela, flutuando.
.Anonymous Anónimo 16/2/05 1:39 da tarde  

domingo, fevereiro 13

Anónimo descrições

quero, do movimento horizontal da tua roupa, tirar a fragância mágica do amanhecer. quando o sol cruza as persianas, cindindo-se em feixes, marcando-nos, aconchego-te a mim, movimento inconsciente de extensão de mim próprio.

quarta-feira, fevereiro 9

Anónimo

A tragédia mais procurada é o casamento.
A segunda tragédia mais procurada é o divórcio.
A tragédia menos procurada é a solidão.

Anónimo

Será que uma borboleta pode ter um sono pesado?
e uma vaca, um aviário?
.Anonymous Anónimo 10/2/05 11:29 da manhã  
e um coelho albino, uma casa de fados?
.Blogger animah 13/2/05 2:31 da tarde  

segunda-feira, fevereiro 7

animah

Como passar o Boss 33 (5.000 de bónus) na máquina da vida, evitando o Tilt?

quarta-feira, fevereiro 2

Anónimo

Ainda há quem fale de amor! - suspirava carochinha à janela esperando um grande rato.

terça-feira, fevereiro 1

animah

- tal como aquele raro livro de duas lombadas que nunca sei como arrumar.
- assim como encontrar um elefante de pelúcia num farto fardo de palha.
- tal como a sombra que deixei para trás no calor adivinhado de uma fogueira.

a dupla lombada foi pensada no início do século para sítios de prateleiras duplas, com vista para o rio e a cidade.
Kyriu | 2/1/2005 10:10:52 AM
... e rebanhos de lã treinados longamente para serem camisolões?
.Anonymous Anónimo 2/2/05 11:59 da tarde  

domingo, janeiro 30

Anónimo lomba

Certo dia acordara e havia uma pequena lomba no meio do quarto. No dia seguinte eram mais duas, e no seguinte mais ainda. Passada uma semana teria que atravessar uma mar revolto de alcatifa da porta do quarto até à cama sempre que se ia deitar.
então decidiu que era altura para medidas drásticas: subiu ao sotão e foi buscar o escafrando do avô. isso e uma tesoura da poda fizeram o serviço: abriu um túnel da cama à porta e montou uma linha interior de monorail.
.Anonymous Anónimo 30/1/05 3:49 da tarde  

sábado, janeiro 29

Anónimo

o violoncelo estava quieto. um ratito comia migalhas perto da janela, enquanto o gato, perto da porta, tentava decidir se iria dormir ou perseguir o rato.
A sombra recordava aberta desde a porta a forma alongada de um felino aparentemente disperso mas que na verdade assumia em contemplação um plano em cujo avanço um rato seria atraído por migalhas deixadas perto da janela e faria tombar o velho violoncelo fechando o rato num labirinto de limitadas liberdades e …
.Blogger animah 30/1/05 2:24 da manhã  
O pequeno rato fazia, por vontade sua, o orgulho do gato tremer no largo violoncelo. Produzindo a exacta sonoridade do calcar de migalhas de biscoitos de aveia em chão de madeira de cerejeira. Podia em delírio então recordar menos espartanos tempos e quedar-se ao sol tranquilo.
.Blogger animah 30/1/05 2:44 da manhã  
o gato tinha migalhas nos bigodes.
.Anonymous Anónimo 31/1/05 12:07 da manhã  

sexta-feira, janeiro 28

animah

Foi então que a vi. Era negra e reluzente. Levantei-a do chão e com ela um conjunto de fios verdes e brilhantes como habitados por pirilampos.
Não trazia rótulo como as anteriores e os fios que saiam de uma pequena concavidade na zona inferior entranhavam-se ainda na terra animados.
Ao calor das minhas mãos passou de uma massa oval para algo que se assemelharia a um pequeno humanóide. Saberia agora quem deveria assassinar. Lentamente. Membro a membro. Por fim a face.
Encontrei no seu rosto a mesma expressão, os mesmos olhos inquietos, as mesmas patilhas, os mesmos pêlos rudemente barbeados…
Era a minha imagem… então sorri. Ele sorriu-me de volta, e rebentou.

segunda-feira, janeiro 24

Anónimo LX1256

As asas do aeroplano transportando aquele tipo de passageiros tinham que ter uma fita colada a toda a volta com o aviso DO NOT WALK BEYOND THIS LINE. Ser responsável pela esplanada nos voos LX1256 era o degrau mais baixo da carreira de hospedeira, mas ela faria qualquer coisa para saber o que era estar dentro de uma nuvem.
Os fatos dos funcionários da empresa tinham sido desenhados especialmente por um estilista do nível 5. Este tinha usado um sortido de materiais autoadesivos que garantiam o equilíbrio "In all weather conditions" (etiqueta adesiva número 3, dobra interior esquerda). Depois do curso intensivo de treino com técnicas memo-psique tinha chegado o dia UM, quando iria supervisionar os preparados liquidos cor-de-laranja vivo dos passageiros num voo entre duas cidades de categoria 2 (LX-PRS).
.Anonymous Anónimo 25/1/05 10:26 da manhã  

domingo, janeiro 23

animah cardápio

A passagem de mercúrio pela casa de pasto é decididamente um bom período para se relacionar com os seus pontos de vista. Essa nitidez apesar de transitória trará, por sua vítrea condição, uma comunicação mais autêntica e harmónica com as hortaliças e demais rabanetes. Deve, neste período, evitar confrontos directos com os nativos de hortelã-pimenta por razões óbvias.
Nunca encontrei premonições sobre courgettes. Ou alcaparras. E ficam tão bem em qualquer frigideira ou wok que se preze...
.Anonymous Anónimo 23/1/05 11:47 da tarde  

quarta-feira, janeiro 19

animah sonífero

Hoje encontrei um pastor que tocava concertina-de-dedos.
Minúsculas ovelhas anãs, em transe ritmado, pulavam estrofes como sebes.
E a plateia atraída, caía adormecida, ao salto de cada ovelha.
era um método singelo de aconchegar os sonhos. após a obra feita ele abria o capote, abotoando-se as ovelhas nos bolsos.

pastor: um balido por pulo

.Anonymous Anónimo 20/1/05 12:08 da tarde  

Anónimo

Compro ou não compro pensei eu e decidi-me metendo a mão até ao fundo no barril o braço mergulhado nos corpos esguios pequenos e ressequidos que se contorciam tirando-o logo de imediato na expectactiva de ter agarrado um pouco de sabedoria e bom senso. Faltaram-me as vírgulas para que a coisa funcionasse.

segunda-feira, janeiro 17

animah

Eram só três os que restavam. Ali encolhidos na sombra da xícara, tremiam assustados perante o apetite insaciável daquela estranha criatura.
Ver os seus companheiros de jornada serem devorados no espaço de um instante aterroriza qualquer um. De súbito uma aragem trouxe noticias da estufa, “tudo o que é verde escuta o silencio”. A retaliação estava eminente.
com novo alento, empilharam-se e atafulharam-lhe a boca de tal maneira que fizeram o dilúvio descer à terra em tons alface.
.Anonymous Anónimo 18/1/05 1:34 da tarde  

domingo, janeiro 16

Anónimo frutos

a língua inseriu-se na vertical, sondando a partir de fora, penetrando. ao encontrar o caroço, os dedos abriram o invólucro, fazendo o sumo escorrer pelos braços, até ao solo. surpreendido em plena actividade, escapuliu-se com um sorriso, deixando a estrada juncada de frutos devassados.

sexta-feira, janeiro 14

animah a previsão

Nenhum pássaro tinha entrado no seu quarto de madrugada para lhe depositar uma semente de hortelã no ouvido. Não tinha sido avisado por uma sequência de sinais legíveis a quem procura, nem sonhado, nem ninguém lho dissera.
Mas ainda assim tropeçara no tapete da entrada da sala das rosas.
Era absurdo.

quinta-feira, janeiro 13

Anónimo o "i" decapitado

Ouvido de passagem num ajuntamento de letras:
"Que seja declarado em acta que desde a última sessão um dos membros desta conferência já não está entre nós. O assassino e cúmplices estão a monte e julgam-se armados com nomes absurdos."
o monte sempre quis ter pinta... eu, pessoalmente, repugnam-me um pouco os invejosos.
.Anonymous Anónimo 13/1/05 11:02 da tarde  

quarta-feira, janeiro 12

Anónimo o inquilino secreto

Como ia de viagem espalhou-lhe flocos de neve pela casa toda: nos bolsos das calças, dos casacos, dentro da gaveta das meias, da caixa de fósforos, do saco das molas, na lata das bolachas, no lugar da antena de televisão, dentro da guitarra...
Quando regressou só encontrou amores-perfeitos no lugar dos flocos. Quando juntou leite à casa (para lavar aquilo tudo) descobriu-se observado por uns fantásticos olhos verdes.
.Anonymous Anónimo 12/1/05 10:31 da tarde  
no fundo do aquário sobrevivia um floco de neve. tinha decidido ser eremita.
.Anonymous Anónimo 12/1/05 11:28 da tarde  
Claro que surgiram logo problemas, que é o que se segue naturalmente a seguir aos flocos de neve. Alguns criaram guetos inexpugnáveis que se foram alargando, alargando, até tomarem a casa toda.
.Anonymous Anónimo 19/1/05 2:34 da tarde  

Anónimo caleira

assim, de raspão, espirrou e começou a gotejar. depois, desatou a correr pelo barril adentro e a gritar:
"Amoras! Amoras! Amoras!"
há dias em que a água escorre assim...

terça-feira, janeiro 11

Anónimo

Quando abrirem o pacote, não expludas. Sê uma bomba revolucionária.
Não fiques assim, a culpa foi minha, abri depressa de mais e intimidei-te. Vais ver que da próxima vez tudo corre bem, descontrai.
.Blogger animah 11/1/05 11:31 da manhã  
Não acreditara quando um livro certo dia lhe disse que cada homem tem uma bomba à altura do peito. Quem diria que seria assim, trágicamente, que desvendaria o seu último segredo.
.Anonymous Anónimo 12/1/05 10:08 da tarde  

Anónimo E.A. - Escritores Anónimos

Concentra-te, vá! Tu consegues! Primeiro uma palavra, depois outra em frente da primeira e assim por diante, até chegar à beira do precipício. Atenção, o momento aproxima-se, é preciso saber parar. Agora chega... vá já está bom! Pára agora! PÁRA!
(Céus, outra vez! Três linhas, eram só três linhas.)

Anónimo o jardineiro do palácio barroco

Certo dia apeteceu à sua curiosidade ver o mundo. Venha cá alguém dizer-lhe que não fez bem, que isto ou que aquilo. De vez em quando ouvia vozes do outro lado dos arbustos falando em línguas desconhecidas e aquele labirinto era uma coisa infindável. Finalmente cedeu.
Foi o dia do grande incêndio.
No calor da sua vontade incendiou tudo à sua volta. A cada passo mais um arbusto se perdia em chamas e cedia passagem. E assim andou em linha recta, abrasador, trespassando curvas e finais proibidos.
Duzentos metros depois, já não ouvia vozes, apenas murmúrios furtivos.

.Blogger animah 11/1/05 12:05 da tarde  

segunda-feira, janeiro 10

Anónimo

Terá de ser assim, lamento. Há piruetas que precisam de ser chamadas à atenção e detractores de flics-flacs à rectaguarda que não passam de actos de boémia.
O mini-trampolim conhecia os seus direitos e deveres e cumpria-os na perfeição. Tinha conseguido um 10 perfeito em elasticidade e propulsão no controle de qualidade. Tornara-se tão seguro de si que fazia o que queria do seu atleta.
.Anonymous Anónimo 11/1/05 12:06 da manhã  

Anónimo

Perdi a calma e a compostura. Ambas eram azuis, assim como caixas pequenas em que se consegue tropeçar sem partir o nariz.
A calma era azul lá fora. A descomposta sentia-se como numa pequena caixa, na qual se passeia de olhos bem abertos para não se partir o nariz.
.Blogger animah 10/1/05 8:43 da tarde  
o que lhe fazia impressão era, no meio da caixa, um pião que rodava, rodava, rodava, até que fez um buraco e caíu pelo buraco das calças.
.Anonymous Anónimo 10/1/05 11:41 da tarde  

Anónimo

Compotas de framboesa, morango e amoras. A prateleira de madeira não tem o que procuro.

sábado, janeiro 8

Anónimo

realmente não se importava com o frio ou com o calor. os pés aconchegados junto do cotovelo. estava mesmo bem assim... ok, ainda lhe apetecia mais. talvez uma sopa de lentilhas.

Anónimo

gostava de lamber a seiva azul que lhe corria nas veias, quando ela se decidia a alisar o pêlo. o movimento de fricção fazia saltar pequenas faíscas que, interagindo com a ponta da língua, causavam uma sensação de prazer correspondente a 6,7 na escala de gelados de menta-limão.

sexta-feira, janeiro 7

animah

- Some-te da minha frente! - disse ela autoritária brandindo o apontador laser.
De súbito nada restava daquele rapazote de olhos grandes e expressão traquina … silêncio … uma leve nuvem de pó colorido planava em lenta queda.
- chiça! Era capaz de jurar que o tinha em "atordoar"!

Quando a poeira assentou, ela viu com espanto o rapaz levantar-se lentamente e começar a afastar-se com um grande buraco na barriga e cara de poucos amigos.
mão esquerda | 1/7/2005 12:52:28 PM
Ainda perplexa, apercebeu-se de um rasto de pequenas gotas negras e luzidias, que ele deixara no chão ao afastar-se. Foi já tarde quando se apercebeu que as mesmas eram óleo das suas complicadas engrenagens internas. Tarde de mais para o chamar à atenção. Era afinal apenas mais um modelo a sair insubordinado da montagem.
animah | 1/9/2005 12:59:58 PM
passou o dedo pelo liquido espesso e cheirou: "cereja... deve ter cristalizado. tenho de o apanhar". guardou o apontador e seguiu o rasto brilhante pelo corredor da fábrica.
Kyriu | 1/9/2005 05:51:21 PM

Anónimo burukratik

ele tinha um dilema. daqueles modelo 3B 43/3, requerido na Agência de Distribuição. e quando finalmente se resolveu a entregar os papeis havia uma rasura e o pobre diabo ficou encravado com o dito...

quinta-feira, janeiro 6

Anónimo companhia

Eram duas pequenas ilhas montanhosas quase a desaparecer na linha curva do horizonte. Estudaram-se ao longe durante centenas de anos, até que um dia começaram as erupções. Aos jornais da manhã seguinte alegaram que estavam fartas de forçar os olhos e resolveram juntar-se, mas todos os nativos sabiam que tinha sido um caso de amor à primeira vista.

Anónimo obras

"Mais alto! Mais Alto! Mais ALTO POR" (o "porra" foi tarde de mais, levou com a tábua mesmo no meio da tola)
pensei q era "mais alto por favor" :)
sim, eu sei, mas as excepções existem.

.Blogger animah 6/1/05 10:33 da manhã  

animah o outro

Cabulou monte abaixo para ganhar balanço e ainda no embalo estudava a próxima ladeira a subir. Ao sétimo monte descansou.

quarta-feira, janeiro 5

Anónimo

já to tinha dito... as coisas são muito mais bonitas quando ditas com sinceridade... escusas de mentir... e depois ris-te, na minha cara!

animah

decerto imaginara-se sozinho quando tentou o duplo mortal por cima daqueles quatro incautos contentores.

Anónimo branco

a bola de neve rebolou pelo chão, dlim, dlim, dlão

animah rama

kasshuu