terça-feira, outubro 31

animah iluminação

Era tarde, o velho candeeiro de luz fluorescente oscilava o silêncio com uma vaga reinterpretação de um canto tradicional alentejano em código morse.
Por mais que se tentasse concentrar havia sempre um estalido indevido para o perturbar. Então, num movimento claro e fluido, atingiu a iluminação.
Conquistado o silêncio, sentou-se e continuou a meditar, às escuras.
E aí observava os pensamentos que corriam como modelos em passereles, rápidos e languidos ao mesmo tempo rudemente interrompidos uns pelos outros. O silêncio era agora como um iglo sobrepovoado: alguém teria de sair ou o derretimento teria início.
.Blogger Shade of blue 31/10/06 8:08 da tarde  

domingo, outubro 22

Anónimo anamnese

ele corria. todos os dias corria um pouco, corria muito mais que todos os outros, mas para ele era um pouco. depois, de vez em quando, havia um dia em que tinha realmente de correr e correr muito. ao seu lado, outros corriam muito, e tentavam correr mais que todos os outros.
a meta, a alguns quilómetros, era o objectivo de todos, mas muitos esqueciam o prazer da corrida. ele não.
até àquele malfadado dia em que se esqueceu de como se andava. e ficou parado no meio da estrada, vendo todos os outros a passarem por si a grande velocidade como formigas-marabunta.
só se tinha esquecido de como se andava. eventualmente, lembrar-se-ia.