terça-feira, fevereiro 20

Shade of blue Fuga desportiva

O mecânico ucraniano desmontou umas peças do carro acabadinho de rolar do reboque. No seu melhor português, numa palavra: Caput.

No metropolitano, feito de carruagens quasi vazias, os apoios pendurados perfilavam-se em barras paralelas que se opunham. De repente animaram-se e começaram a fazer acrobacias como na modalidade olímpica, mas aquela em que as barras ficam assimétricas, voando de uma para outra em cambalhotas precisas e ousadas. O comboio imobilizou-se. Os apoios, com uma disciplina militar, alinharam-se de novo excruciantemente iguais e ordenados nos lugares originais antes das portas se abrirem.

Caput.

Com um pii agudos as portas abriram-se e a multidão soltou-se, correndo em magotes para a chuva.
O velhinho guardou o baralho das cartas e sorriu, matreiro: Crapot?
.Anonymous Anónimo 22/2/07 12:52 da tarde  

segunda-feira, fevereiro 19

framboesa

os soluços faziam-na dançar e contorcer-se às cavalitas nas costas do homem mais triste da aldeia. os seios maduros esborrachados contra as costas dele, ela ria-se incontrolavelmente, embriagada de vinho e olhares e promessas dos homens da terra. "levas-me a casa? vamos à praia! quero fazer xixi!"
no bosque, os grilos saudaram-nos. depois do silêncio inicial, ele decidiu ir para casa. já ia adiantado no caminho, quando a ouviu gritar: "um dia vou dormir contigo! vais ver! é uma jura!"
E aqui estávamos nós, quarenta anos volvidos, a braços com um silêncio constrangedor de uma jura por cumprir.
.Blogger Shade of blue 20/2/07 3:58 da tarde  
Tu estavas bem e disse-to - via-se na tua cor dourada - devolves-te o comentário e percebia-se que o dizias com verdade. Trocámos cartões e iniciámos cada um o caminho para o par de braços que nos esperava.

O narrador ficou a observá-los e entendeu que uma história tem muitas voltas e não é uma parágrafo que a confina ao quarto escuro que alguém imagina na casa de outros.

.Blogger Shade of blue 24/2/07 10:27 da tarde  

quinta-feira, fevereiro 1

animah no verso

Nunca tinha acreditado em viagens no tempo, até dar com a sua propria imagem envelhecida numa fotografia centenaria. No verso podia ler-se "viajante errante procura (na)morada pacifica".
Deviando-se de mais um prato que voava,perguntava-se o que tinha acontecido. De quando se teria esquecido daquilo tudo? Teria sido o tempo a esboroar as suas ambições?
.Blogger Shade of blue 20/2/07 3:54 da tarde  
Por mais algum tempo deixou voar esses pensamentos contraditórios, enquanto inconscientemente vasculhava arquivos mentais em busca da peça perdida. Deu com um pequeno e misterioso envelope azul.
No verso, em elegante caligrafia, podia ler-se - "Para mim".
Todas as respostas a presentes perguntas estariam ali escritas,
pela sua própria mão.

.Blogger animah 22/2/07 2:44 da manhã